19/01/2010

Bailarinas por um poeta brasileiro.

Well...tem uma letra do Chico Buarque (digo letra porque todo mundo já estragou tentando cantar) que se chama "Ciranda da Bailarina"  ela pinta a bailarina como um ser perfeito, inatingível e isso ficou ainda mais forte depois da "sagração" das sapatilhas de ponta por Maria Taglioni ou em "Giselle" séculos atrás... as bailarinas têm leveza, segurança...postura (ao menos no palco).

 A tal canção foi feita para a educadíssima Ana Botafogo. Bem, não sei quanto à ela, não convivi diariamente para saber...digo pelas bailarinas que conheço, são pessoas absolutamente normais. Mas vejo a letra de Chico como o que mascaramos no palco, o avatar de cada bailarino que dança sobre o tablado, são seres mágicos que suportam cortes e calos sem descer do gesso e saltar sobre o sangue, magníficos que se acostumam à dor diária e aceitam isso como parte de seu crescimento.
 Bailarinos não podem ter muita coisa: um bailarino não pode ter muitos filhos por uma questão lógica, cada dia sem treinamento é uma semana de sofrimento dobrado, mil viagens, amamentar nas cuxias (ou na rotunda), voltar ao peso normal. Um bailarino tem dificuldades para conviver com família, amigos porque sempre tem ensaio, vive cheio de marcas roxas de contração muscular, passa até 9 horas fazendo exercícios intensos sem se alimentar.



 Só quem convive com bailarino sabe, aliás, só o próprio bailarino sabe da cãibra no arco do pé que nunca acaba, a dor na parte posterior da coxa que é coisa normal ou as costas que doem quando você respira, querer calçar uma sandália delicada e ter vergonha dos pés...mas não tem preço ver um arabesque alto ou um giro bem feito e isso inspirou Degas, Chico e muitos outros é esse esforço que faz tal profissão admirada e é tão honroso saber que grandes pessoas percebem tudo isso.



 Voilá: recebem do grande Chico Buarque essa homenagem, ouvir aquilo me faz ouví-lo dizer: "vocês são magníficos, nunca vi nada igual, não deixam nada dos bastidores transparecer nas cenas, parecem seres celestias quando dançam...conseguem enganar até mesmo minha enorme sensibilidade!" e isso não tem preço.

   Obrigada Chico!


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